Condenada à Liberdade

Busco dentro o que fui. Uso da sucção, pela vontade que me revela, o boneco que me representava. Não vem.

Não é que queira resgatar o inanimado. Mas buscar referência, ponto de fricção para comparações. Onde melhorei? Piorei? Transformei? Desmistifiquei crueldades e emparedamentos? Destronei reis e rainhas? Extraí algazarras dos Santos que viajaram no pedestal na caminhada, caindo de cabeça nas fraquezas humanas? Convenci rebeldes e bandidos sentarem-se no banco dos réus, diante de Deus, para confessarem seus ilícitos contra si mesmos, de incredulidades e de negacionismos? Levado os niilistas e céticos a tirarem o lenço do bolso diante dos terapeutas, confessando suas crenças na vida , e no alcance do estado de felicidade em Deus?

Mantenho-me sempre naquilo que Sartre esfumaçou no tempo um dia, dizia ser a liberdade o que move o ser humano. Somos feitos de escolhas. Por mais que eventos afetem as nossas escolhas, nós continuamos escolhendo.

A liberdade para continuar escolhendo a vida se revelou no sentido integral a mim, sem referências, cotejos, confrontos e comparações. Nem em relação do que fui, nem daquilo que me tornei. Eu e todo mundo! Mesmo não sabendo como serei quando o Sol nascer no amanhã.

O referencial aparece quando lembro que andei no chão dos transeuntes com os próprios pés no piloto automático, e hoje, para me locomover, necessito da cadeira de rodas e do andador para tanto, o peso do corpo, das pernas, e a fadiga muscular dos membros inferiores para administrar, e a necessidade da empatia do outro para auxiliar-me a chegar em diversos destino.

Mesmo vivendo na cruel dificuldade, sinto-me condenada, mesmo assim, continuar fazendo a escolha pela vida, impregnando meu ser de bastar, de tal forma que virou nódoa, sem chance de retirada.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 17/08/2021
Código do texto: T7322542
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