Palavras e mais palavras
Quem escreve, constrói. Tal qual um arquiteto, o escritor ergue os sainetes de suas ideias, sofistica o projeto e ajusta os adornos.
Mas, o melhor dos arquitetos não seria capaz de elaborar em seu gênio o Corcovado, o Himalaia, ou uma roseira com tamanha perfeição, assim como ela se apresenta na sua natureza bruta.
Não por menos, o escritor também que não nasce, não cresce e nem morre atingindo o objetivo de traduzir as abstrações que o levam a escrever.
Por exemplo, o amor não se pode definir como algo "que é". Na melhor das hipóteses, o escritor constrói histórias onde se verifica o contraste pelo qual ele aparece - mas isso não o define, isso só o identifica dentro desse teatro confuso que é viver.
Triste sina do escritor que pretende dizer aquilo que só se sabe sentir.
Triste homem que no desejo de descrever o universo, descobre que, quando muito, só foi capaz de identificar um átomo e, que dormirá culpado por que aquilo que sente é maior do que o que diz... e se não se pode traduzir, como se afirmar real?
Se lhe serve de conselho, se quiser ter paz, guarde essa palavra em um cofre, e somente a use quando (e se) tiver a sorte de encontrar algo que desconheça, que te provoque o constrangimento e lhe arruine a vaidade.
Tal qual a cinza que retém o calor, uma estrela cadente no céu de inverno, o amor aparece no efeito que irradia, sem revelar, contudo, a sua origem. É um feixe de luz, o movimento dos objetos inanimados, a centelha pela qual a vida se inicia e, tudo mais além disso, é fantasia ou vaidade.
Guarde o amor, escritor, para aquilo que você ainda não foi capaz de ler.