Hoje me permiti pensar em você
Hoje eu vejo claramente o quanto nossa história foi especial desde o primeiro segundo. Mesmo com todas aquelas pessoas rindo sobre nós dois, mesmo que parecêssemos dois idiotas dançando forró.
A gente se amava. Nós sabíamos disso, nossos amigos sabiam disso. Acho que a vida sabia disso, por isso nos juntou. Hoje eu posso ver claramente os motivos de por que fomos como fomos, e por que tudo acabou. Mas não posso negar amor, nós fomos incríveis. Hoje eu me dei conta disso. Nós nos conhecemos por acaso. Você pediu pra se sentar na minha mesa, e eu deixei – ignorando o fato de você ter escolhido logo aquela mesa. Nós conversamos bastante para dois desconhecidos com um senso de humor ácido. Algo em você havia chamado minha atenção e você não parava de me olhar.
Foi um dia de julho. Eu nunca esqueço isso. Julho se tornou meu mês preferido depois disso, o meu mês dá sorte. Nós tomamos cerveja, comemos batata e você me chamou para dançar forró. Você não dançava, mas enganava bem. Achei fofo você se esforçar só para me impressionar. Depois de muito tempo conversando e dançando, você me beijou. Me lembro do seu irmão gritando, e da minha amiga falando que estávamos lindos. Todo o frio na barriga que senti já estava me avisando o quanto minha vida ia mudar. E mudou. Nós começamos a namorar, e logo fomos morar juntos. Nossa sintonia parecia de outras vidas e a gente se entendia em tudo: na cozinha, na cama, na política, na música. Lembrando de todos os natais e aniversários que tivemos naquele nosso apartamentinho apertado no centro, eu vejo o quanto fomos felizes, amor.
O quanto o amor quando é amor de verdade, é simples.
Quando nos casamos não foi novidade para ninguém, nem mesmo para mim, que fui pega de surpresa com aquele pedido na praia. Você sabe que eu odiava praia, mas insistiu em mudar isso pra mim, me fazendo ter uma lembrança doce nesse lugar. Agosto virou meu outro mês preferido por conta disso, mas eu deveria ter ouvido minha avó: “casar em agosto, traz desgosto”. Mas eu estava irrevogavelmente apaixonada, e nada me abalaria. Não havia outra opção que não fosse nós dos. Nos casamos no meio do mês e depois fizemos um mochilão pela Ásia. Foi tudo tão perfeito quanto poderia ser – até não ser mais. Ficamos juntos por dois anos e sete meses, até começarmos a brigar. Olhando agora, eu percebo que isso eram só partes de nós dois que precisavam ser ouvidas e não abafadas. Hoje eu vejo que poderíamos ter feito mais, lutado mais. Mas não deu.
Nos separamos. E hoje, um ano depois do dia em que eu assinei aquele papel com lágrima nos olhos e mãos trêmulas, eu me pergunto: como um amor que nasceu da forma mais inesperada, se transforma em indiferença? Como podemos seguir em frente, depois de tudo, como se tudo fosse nada? Eu ainda não sei a resposta para isso. Só sei que, depois de um ano, hoje eu me permitir pensar em você. E como tudo que sempre envolveu nós dois, não me arrependi. Eu nunca me arrependi.