NO COLO DA NOITE SEM LUA
Há situações ou experiências que são passagens, travessias que não são necessárias, mas se se manifestam que possamos fazer o melhor de nós com as mesmas. E o que nos cabe, é nos reconhecer em cada uma delas.
Sim, nos reconhecer, ver, saber de si. É possível, eu posso e você pode. E após a travessia, seguir em frente, adiante e não olhar para trás como fez e a mulher de Ló e fixar-se como estátua de sal - enrijecer-se ou paralisar-se. Afinal, travessia é travessia, tão somente. E pontes devem permanecer em seus devidos lugares e a serviço do que vieram ser, simples assim. Agradeçamos a oportunidade da travessia, agradeçamos a todas as pontes que não estão aos nossos serviços, mas para "o que" à nós, também rege - Si Mesmo - e então, sigamos.
E dessa reflexão (estudos e prática), surgiu o texto abaixo!
.........................
NO COLO DA NOITE SEM LUA
E então, olho no olho eu fui ao seu encontro, mesmo diante das esquivas em que você estava por entre as pilastras daquele lugar. Um ambiente a meia luz como lhe é próprio e já à mim, não mais desconfortável. Trajada como devia ou me assemelhava naquele momento e mesmo ainda largos os mantos, me coloquei a sua frente e te detive em suas brincadeiras. E então a fatídica pergunta: "O que você quer?"
Meio sorriso, foi a resposta. De um ardil sem disfarce, compreendi toda a sedução dirigida com um propósito, revelar-me por outra face. Foi assim que reparei em suas vestes, tão semelhantes as minhas, porém, não tão exuberantes. Compreendi a ligação e a intenção de alimento para sua existência. Ingênua intenção porque não sabes o quanto és e a quem serve. Não sabes que para sentir-se existindo não lhe é mais necessário esses jogos que devora a existência alheia. Foi aí que seguiu-se a conversa em meio as brumas e segredada a todos os ouvidos. E disso então, eu vi o propósito reafirmado, a ação delineada por aquela voz e as esquinas dos caminhos a serem escolhidos.
Teu ardil, longe de ser um malefício, é a ponte para que se possa ver, mas ver além dele mesmo. Portanto, és ponte, travessia e que por assim ser, deves permanecer como és e quando nessa ponte for preciso atravessar, ali estaremos a te consultar mais uma vez e quantas vezes for necessário e sim, no colo das noites "sem lua". E como és a própria sedução em brincadeiras ardilosas, saberemos quem és e atravessaremos. És preciosa chama que arde, mas que deve se consumir em seu devido lugar, não mais nas mãos que hoje, por ti também, se realiza.
Guarde toda a tua ira ou distorcida força para que saiba da mesma em energia para tua própria existência que não cabe a mim ou a nós, manter. Tão somente, sirva-se dela para que em breve, num banquete, estejamos todos em celebração e cada qual, portador de si mesmo.
Kátia de Souza - 15/08/2021