Cacho de uvas verdes
E quando as canções eram de chuva e a noite escondia estrelas, em mim cambaleavam solidões. E as ruas eram de curvas e minhas viagens eram cachos de uva verdes, despencando no chão da língua dela. Por madrugadas arrastadas sonhava incessantemente. E as horas eram nuas e as janelas ficavam turvas nos pedaços de saudades que eu sentia.
De poesias, ficavam os telhados recitando goteiras. E os pequenos sulcos na terra iam se fazendo em areias soltas e versos partidos. E quando os ventos fugindo no meio dos filetes de águas peneiradas faziam as folhas tremerem encharcadas, em mim, as emoções eriçavam a pele em desejos.
E os silêncios nas paredes deixavam-se soltos nas tinturas delas. Amavam as canções pingando lá fora. E os meus silêncios gritavam nos horizontes de minhas quietudes inflamadas. As esperas eram desertos e o sol na manhã vinha preguiçoso luzir nos charcos das melodias caídas durante toda a noite.
Sobre o travesseiro um cacho de uvas verdes e uma lingerie jogada no chão...