Feliz como um colibri
Poesias pingavam nas margens da tarde quando o sol já quase desmaiava no colo da noite. Um vento rasteiro tirava lascas de poeira quando arranhava as costas da estrada vazia. Por momentos fiquei a contemplar saudades do que não sei explicar. A vida é como um perfume raro despejado de um frasco de emoções, para se esvair lentamente pelas andanças necessárias ou pelas inércias muitas vezes obrigatórias, mesmo que não entendidas assim.
Um colibri paira no ar e na ponta do bico desenha beijos que irá roubar das flores. Em silêncio, belo, como que na certeza de estar sendo amável, as beija e vai embora. Assim as cenas da vida se abrem, com esperanças desenhadas a cada dia, de forma surpreendente, apenas com a diferença de não ter a certeza de que tudo é amável.
Às vezes tudo é muito raso, tanto que dá medo de mergulhar.
Na estrada vazia o vento continua suas travessuras jogando poeira para o alto, feliz como o beija-flor. Prefiro desvencilhar-me das saudades que não sei, e também feliz como um colibri mergulhar-me nos cabelos soltos e no abraço quente da amada, que lindamente surge na estrada, desenhando beijos nos lábios para me entregar.