Guardiãs das Memórias

Marias de ausências

Marias de chegadas

Marias de partidas

Marias de mãos dadas

De mãos estendidas

Na roda da vida que gira

Incessantemente

Mantendo-nos fortes, presentes

Nas despedidas inevitáveis

Engolindo o pranto, vestindo-se de coragem.

Pra continuar nessa estrada de espinhos

de tantas feridas, de tantos descaminhos

Causadas pelo urgir do tempo que grita,

dos vazios estagnados pelas despedidas.

O que somos, além dos remendos?

O que somos do lado de dentro

por sob a armadura fincada na carne?

Somos uma infinitude de saudades!

Saudades do colo que embalava

Saudades da vida passada

Das lembranças que transborda a alma

No caminho ígrime dessa longa estrada.

Tantas vidas que deixaram suas marcas,

Tantas passagens, longas histórias

Como bagagem que trazemos na memória

Tantos pedaços de nós arrancados

Levados de súbito, tantos sonhos extirpados do nosso percurso.

O que somos, o que seremos após as areias do tempo escorrerem, após a roda girar, e o tempo da solitude chegar?

Ainda seremos mulheres que lutamos para que nada se apague, para que nada mais se perca

Ainda seremos Marias dando nosso sangue, trazendo na essência, memórias, as ausências de antes e de agora.

Anfitriãs de tantas chegadas e de tantas despedidas nessa jornada.

Arrebanhado almas nesta batalha, vencendo com lágrimas, de mãos dadas, das lembranças que ficam pra nos recordar que somos passagem, na poeira do tempo, cada vida importa, as que aqui estão e que viraram saudades.

Depois da dor, dos vazios, das ausências sentidas por toda uma vida, permanecem as memórias, persistem marias, fazendo também de cada perda, os versos de uma poesia.

Heterônimo

Maria Mística