Inocência
A inocência é a voz íntima sublime que nos faz companhia e nos abraça em parceria. É a suavidade de quem soltou o mundo e abraçou o seu próprio mundo para além da palavra ou qualquer entendimento. É o frescor de quem vive a coragem de encarar suas próprias esquinas e retas diluindo-se pouco a pouco e ainda assim, ouvir a confiança de sua própria voz. E ainda, talvez, seja o "não-saber" e ainda assim confiar.
A inocência não possui referência alguma, a não ser aquilo que não se define, mas se permite sentir, dentro. Não é rotulável ou traz na mala o conhecimento de nada, além dos sons que emite o tom de seus passos ou sua existência, para se fazer presente. E estes sons, são tão únicos; vem deixam-se ecoar e vão, quase no mesmo segundo. Não, não fazem questão de perpetuar. São sempre novos, primeiros ou inícios. E até por isso, se confundem com o canto das sereias; aquele que ingênuo não viu que é apenas uma malha fina de uma única intensão: diluir os incautos, junto às águas daquele oceano, em tuas ondas desdenhar de suas forças e os levar para lá e para cá numa dança hipnótica. É assim que aprendemos de nossas próprias faces, em cada solavanco. É da ingenuidade, nos fazer reconhecer os perigos do mundo, até que chegue a inocência.
A inocência vai junto às mesmas águas portando seu leme e mesmo que sem direção, ali está ele, o leme nas mãos, repartindo o fluxo, discernindo as profundidades, reconhecendo até mesmo, sua própria extensão. E quando em mar revolto, abraça-o junto ao peito e deixa-se sobre as ondas, flutuar. E faz de cada momento, inspiração e aos céus se lança, ganha asas, se põe a voar.
A inocência, é estar em si, é viver o que não se pode ver ou ouvir, mas no simples silencia para ser e é. E em cada ser a mesma se apresenta, sem cópias, sem diretrizes e que cabe a cada um em si mesmo, calar. Na inocência não há palavras, falas e se há alguma coisa, talvez seja, compreensão.
Kátia de Souza - 25/07/2021