POÉTICA

Todo dia é sagrado. Queria ter um poema pronto para cada dia santo e um profano para intercalar. Seriam dois poemas por dia, até 2 por hora, 2 a cada instante. Respiraria poesia 24 horas 7 dias da semana até que o herege e o santo comungassem o orgulho de ser gente livre na mesma bandeira.

Para o estúpido liberdade é vago motivo, o vácuo, imbróglio, corpo embrulhado em corte abstrato. Mas liberdade é rasgo aberto na periferia do estrago, por isso levito personagem em auto de derrama suspenso no tempo depois de abrir os olhos. Que sabem da Rosa do povo os novos déspotas esclarecidos orgulhosos de terem nascido homens no mundo de homens que pisam flores?

Nas veias entupidas da América Latina o gorduroso ranço dos ganhos espúrios abrem vielas inquietas à foça dos grilhões da tirania. O consenso em voga deixa a terra chata e a cisão sócrates | platão obscena. Entretanto, e a custo de tanta vilania, no meu peito centenas de homens libertos desembarcam cantando novo espanto. Incendiando as ruas sopramos a brasa da liberdade nas cinzas de cada dia.

Que eu seja o outro incomode. Mesmo que por puro fingimento poético, estar fora do lugar comum por um segundo e denunciar a prisão em que estamos só porque sai de mim a notar a luz no mundo. Fazer ponte, ser ponte. Diluir-me porque posso e não porque querem. Tornar-me diverso e ainda único, menos fragmentado num raro momento de desbrutalecimeto.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 20/07/2021
Reeditado em 01/11/2023
Código do texto: T7303467
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