Grafite inteiro
Nas ruas vazias o vento vai emaranhando o encordoamento líquido desprendido das nuvens. Chuva faz canção nos telhados. Despudoradamente se joga nua incitando florescimentos na terra. As enxurradas amarelecidas por rolarem nas sujeiras, apesar de tumultuadas vão-se escorrendo para bueiros numa solidão de dar dó.
Espio os vazios no pedaço de papel em branco. Não consigo escrever porque a poesia é vastidão da gente. É chuvarada que rega emoções. E hoje me deixei oco esquecido na beira de minhas ilusões.
Cultivo saudades em canteiros de ausências, e vejo floradas lindas que se foram em securas repentinas. Debulhadas em lágrimas ficaram as tristezas fazendo charcos nos areais de meus desertos. Inspiração hoje é caravana rumando para a dormência das belezas acabadas. Fica tudo quieto e frio.
A chuva continua. Trovões se arrastam em rouquidão após os clarões entre as nuvens. É como despedidas amargas deixando choradeiras.
O grafite do lápis exibe sua inteireza deitado sobre a pele branca e nua da lauda.