O CORAÇÃO ABRE A CORDEONA
– Aos parceiros do 4º Acampamento da Poesia de Entre-Ijuís/RS, de 11 a 13 de novembro de 2005.
A confraria está posta, com seus silenciosos olhos, e a voz dos ancestrais. O canto dos amores, na boca dos poetas, soluça ausências e mitos. O tempo passeia nos retratos, nas lufadas do vento cochichando nas frinchas, de permeio às frestas da história. Barreados de sangue, de amores, velhas paredes sussurram o canto da infância e escorrem por elas cativos caminhos, gretados grilhões nas lutas de amor à liberdade de sobreviver. Os rituais se concelebram na lonjura civilizatória, e o poeta é a voz dos sapos e dos grilos, saltitando soturnos cricrilos emponchados de medos. Entre ervas daninhas e os esparramados cabelos do trigo, os relatos dos Rodeios das Alçadas galopam corcéis fogosos no rio Ijuí-Guaçu. Talvez permaneça em nós a arte de amar o Belo, na cabocla estética dos ranchos e algum “saludo de sapucay” ou um espontâneo e fraterno “ô de casa!” ecoe dentro de nós.
Os ancestrais estão vivos nas artérias de pau-a-pique e alguma tapera, no olho do tempo, ocupa a alma aragana. Enquanto houver algum soluço de terra e gente, o homem estará polir a pedra no eterno monjolo dos arroios. A vida passa, e cada vez mais a pedra, tijolos e paredes cantarão no coração do poeta a celeuma dos que foram, e o canto dos vivos.
– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2009/2013.
http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/73021