Crise Científica - em prosa e poesia

Já não sei se gosto tanto de cinema assim

Já achava trabalho demais fazê-lo,

E agora, pesquisa-lo, então....

Gosto é de vê-lo.

Já não sei se gosto tanto das novas tecnologias,

O mic. da cam. pifou até o velho gravador falhou

Perdi as minhas entrevistas,

Gastei dinheiro em fita, dvds e pilhas

Já não sei se gosto tanto de escrever

Normas, termos, regras, parágrafos, autores

Citar referências, q coisa bem pouco criativa...

É pesquisa

Já não sei se gosto ou não do tema,

Ora paixão, ora desencanto

Trabalho é que tem dado bastante

Até o Word falhou comigo,

Comeu o meu arquivo,

Salvo e sumido

Quem não me deixa desistir

São meus amigos,

pegaram minhas fitas,

Vão trazer transcritas

Não consigo pensar direito

Ter um texto, corpo, desencadeamento

Fechou tudo, bloqueou o pensamento

Busco na prosa o sossego

Esse texto acadêmico quase me mutila

Parece robótico, sem cheiro nem lingüiça

É pesquisa

Documentos, datas,

Histórias passadas

Recontadas

1 mais 1 são 4?

Excesso de ciência, tem conseqüências

Não gosto do exato

Não sou física, matemática

Muito menos quadrado

Não uso óculos escuros

Nem claros

O tempo passa, as horas passam

É primavera, as borboletas namoram

E os passarinhos também,

Todos menos eu,

Que deito e me acabo

Pobre do coitado

Massagem no máximo

(ele não vê a hora de chegar o verão e eu também)

Eis que esse fim de ciclo

Me intimida

Me faz ser mais exigente

Mesmo perdida

Me faz crer e descrer

Improvisar

Refazer

Chorar

Aprender

O que me consome são as normas

Quem consome, os outros

Eu me consolo no meu descanso de tanto consolo exigente

Pedindo espaço

Pedindo presente

Ta feita a prosa e a merda robótica

Quem vai ler...

Vai entender que era pra ser poesia?