DESPEDIDA
Os olhos do peregrino pelos caminhos de terra encontram pedras e cascalhos. Também lá que outras urzes insubmissas ao calor e ao vento. Alguns filhotes da Primavera chamam a atenção de todo o visitante: os malmequeres abrem seus sóis dourados no cimo dos cerros e escorrem ladeira abaixo como um rio verde-amarelo. A grama verdejante respira afogada nos orvalhos jogados ao léu durante a madrugada. Ainda soluçam os grilos neste lusco-fusco amanhecido. Piscando os olhos, o sol, debruçado sobre a linha do horizonte, anuncia o dia. E o poeta, de pijama, conversa com o sabiá, que limpava a garganta abrindo o canoro bico. Havia algo de tímido na palestra e o cochicho beirava o derradeiro canto. Tudo era longo e arrastado, como quem se despede da vida gargarejando o tempo. Os olhos do caminhante giravam na órbita como uma bússola ensandecida. Para trás ia ficando tudo, e, novamente na estrada, só se ouvia a poesia cochilando como uma dama antiga.
– Do LIVRO DOS AFETOS, 2005/2009.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/72999