Urutau II.
Não sou propriamente poeta, bem sei,
Mas é que minhas noites de insônias são longas
E meus olhos de olheiras
Escrevem o que não sonhei.
Julgo muitas vezes que o sonho é que é o real
E quando acordo
Demoro para perceber que não sou um urutau
Triste não estar escondido num galho,
Cantando para a lua
Sentimentos de dor e amargura.
Como um urutau
Num tronco de pau
Camuflado para o resto do mundo
Ressoando aquele canto:
-Foi, foi, foi, foi...
Eu fico pesando em você,
Minha Lua... influenciando minha maré...
-Dói, dói, dói, dói...
Sabe, já tive enchentes e transbordei.
Mas lá no fundo sei: luas são impossíveis
Lua é o sonho de vários poetas.
É o canto dos Jurutais.
(E. P. Coutinho)