O culpado é o poeta
Se estiver cansado, não leia! Ainda não há castigo previsto para esse crime.
Admito. Que sábias palavras ousariam contrapontear de alguma maneira, versos que lhe chamem a atenção? Que interessantes notas poderia eu extrair deste mísero instrumento que se chama alfabeto?
Não sei quais temas lhe tocam... Nem a cor de seus olhos. Não quero abrir mais uma ferida, tampouco sangrar as antigas...
Mas o que mais se pode dizer numa hora dessas? Quisera ser superficial. Quisera não ter espinhos. Quisera não me infectar com meu próprio sal.
Mentir que poeta não chora ou dizer que o poeta é que faz chorar!
Vaidade. Acabo me contagiando com meus sentimentos. Acabo me viciando nas suas curvas, fazendo da lagoa um espelho, sublime, para aquele que me vir enxergue não a mim, nem a si, mas a dor do poeta. Para que vejam o quanto é doloroso o pranto dos moribundos de amor.
Mas não consigo. Acabo sempre infectado.
Pergunto então às letras o que acharam de participar... O que sentiram ao serem combinadas, organizadas, eleitas para participarem dessa festa platônica? Imploro que não desistam dos poetas e dos demais poemas, que ainda adormecem no porvir.
- Sr. Alfabeto, cuidado!
Esse poeta de quem vos falo, esse, que é capaz rasgar o peito por amor, pode facilmente fazer das letras seu brinquedo, apenas para, no auge de uma crise egocêntrica de afagos, arrancar alguns míseros suspiros de sua amada.
Aqui na Terra, sem sombra de dúvidas, o culpado é o poeta, responsável inteiramente por, em tempos de pandemia, realizar tamanha aglomeração alfabética.
Poderia muito bem ser Roseira, mas nasceu Paineira.
Não mascara palavras nem escolhe suas vítimas. Vive do abraço alheio! Transmite ali toda sua verdade. Esse, que um dia ainda há de pagar com amor, a todo esse amor que anda por aí desejando.
Que seja cruelmente acorrentado aos pés da paixão, para que ali, vigiado, sobrepujado, conte ao mundo o que pensava dizer depois daquelas suas mal explicadas reticências...