Entrega

Só pude dizer que fui, sou ou serei, naquele instante não marcado pelas mãos que delineiam meus passos;

quando me entreguei no colo da experiência e te vi sorrir, brincar com nossos percalços, atropelar todas as nossas certezas e beber juntos do vazio que nos perde;

foi naquela entrega sem intenção, fluindo com a natureza do que somos que peguei uma porção de nuvens com meus olhos e antes que dissolvesse, pude sentir o que desesperadamente, tantos buscam, sem saberem que se encontram já aconchegados em seu colo;

e para não deixar-me existente novamente, tão certa e tão inteiramente desenhada pela inteireza, soltei-a feito pássaro; e como é de ser, evaporou-se aquilo tudo, no meio do sorriso de um par de entrelaçadas mãos;

e num suspiro caímos em meio as palavras metades e vestindo-nos de asas, despencaram ambos, naquele chão onde não se precisa mais nada e onde o "ter que" nunca mais nos fez sentido!

Kátia de Souza - 09/07/2021