Despedaçado

De outonos cai pelas poesias amarelecidas de esquecimento e fiquei nas beiras das ilusões tateando solidões. Veio o inverno arrastando ventos e de tristezas me deixou em silêncios. Eram dias e noites, todos despidos e amordaçados para conterem os gritos doridos das saudades.

Foram chuvas calmas, mas que não lavavam angústias. E dos telhados apenas escorriam pedaços de noite pingando madrugadas inteiras em meu olhar sem sono. Nas manhãs, era fria a nudez de meus sorrisos trancados diante dos espelhos de minhas lágrimas. Fragmentava-me em emoções a cada minuto e sem conseguir juntar-me, amiúde restava-me olhar em cacos.

Singravam poesias nas turbulências dos mares internos e afunilavam-se para o calado do abissal sem recitações. A alma é de intenso e verdadeiro sentir, sem a vergonha que a superfície da carne tem, e tenta disfarçar tantas vezes. A essência pura do ser não mente para si mesmo.

Primaveras enfeitavam campos ao longe, mas não me davam esperanças de que viriam até mim. E o verão era apenas um sol caindo nas costas do horizonte, acenando um adeus que nem ele sequer tinha ideia, de tão lindo que era a chegada do sorriso dela mirando-me em jeitos e desejos.

Takinho
Enviado por Takinho em 07/07/2021
Reeditado em 28/12/2023
Código do texto: T7294935
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