[Caminhares: Na Bateia dos Sentidos]

Do cascalho, o que presta fica no fundo — filosofia da pingaiada]

Busco no deserto as razões que me faltam,

e por um vezo estranho de estranhar-me,

ou por nem saber por que antes gostava,

e agora, não gosto mais de certas coisas...

Deixei de tomar café expresso

deixei de gostar de Física Nuclear;

passei a ler sobre a Fenomenologia Existencial

comecei a usar a poesia como terapia;

nunca mais fui à beira do mar

deixei simplesmente de comer camarão;

parei de assinar qualquer coisa periódica

passei a dar valor aos palimpsestos e fragmentos;

parei de atravessar a cidade a 140 km/h

passei a olhar mais as árvores, os pássaros;

passei a gostar de certos jogos da vida

passei a pensar que todos têm chance com todos;

passei a perceber que posso ser um veneno interessante

comecei a simplesmente a adorar a intersubjetividade;

passei a admirar as mulheres mais intensamente

comecei a beber de modo a ter uma morte, lúcida, lenta.

No deserto onde eu desvelaria o meu nome

eu me perdi de referências fundamentais.

No deserto, o peso maior de um passo

faz a gente andar em longos círculos.

No deserto as escolhas, por se tornarem claras,

levam a um confusão ainda maior de rumos.

O que eu, um cavalo da noite, um lobo da capoeira,

fiz dos meus caminhos, desde que vim de Minas?!

Quando vim de Minas, faz tempo,

descobri que um certo Brasil morre comigo.

[E como sempre, e principalmente aos que me conhecem, eu não disse nada...]

Penas do Desterro, 08 de novembro de 2007]