Mineirice
Sou mineira, uai! E meus olhos dizem
muito mais que minhas palavras...
Às vezes de soslaio, às vezes diretamente.
Se eu caminho devagar, é que tenho serras a admirar.
Tantas!... Coloridas, tal qual o meu sonhar...
Minha memória remonta não aos bondes de outrora,
mas me lembro de alguns picos negros como minério,
que os anos foram minguando. Também nada é eterno!
Já caminhei por ruas cobertas de intenso brilho,
minério de ferro e muita poesia.
Bons anos, muitos vôos. Minhas asas prateavam-se ao luar.
E me embriaguei com perfume das rosas,
lambuzei-me de doce de leite e
brigadeiros de festa, e admirei os do Ar.
Mas, antes de voltar a ser mineira,
mergulhei meus olhos no Tietê por muitos anos.
Era rio ainda, e eu, criança demais.
Mas me lembro das suas águas
e da sensualidade no seu cantar...
Típica mineira, sinto saudades das serestas.
Dos acordes sem pressa,
nas infindáveis noites de luar.
Saudades das flores deixadas sob a janela
no meio da noite. Que festa! Ao som de
uma serenata que me fazia acordar.
Ah! Ser mineira é imaginar que
o oceano irá romper nossas montanhas
e salgar nossos vales só para nos ver banhar.
E sob o sol insistente,
tostarmos nossa pele em águas doces,
em estâncias hidrotermais, ouvindo o barulho do mar...
Ser mineira é muito mais.
É um exercício físico:
é ter as coxas grossas e a bunda grande;
afinal, subir morros não há quem não os faça,
morando em Minas Gerais.
Mineirice é se "juntar" na cozinha,
beber leite, comer doce.
E de repente esvaziar um tabuleiro
de pão de queijo, quentinho...
- Aceita? Feito por mim, uai!
Dôra Leal