Agreste

Sinto um abismo me engolir, que não sei quem sou e nem pra onde vou, ouço tantos ruidos aqui dentro, que sinto minha alma rasgar, minha voz sufocar, pelo excesso de emoções que devoram, queimam minhas vísceras.

Sinto meus passos pouco à pouco rumo à loucura, não sei mais lidar, não consigo esconder os estragos, escombros de um coração tantas vezes costurado, por tantas vezes feito em pedaços.

Sinto minha respiração ofegar, sinto que este aqui não é meu lugar

são tantas palavras presas, mastigadas, as horas correm apressadas, o tempo desfaz-se em minhas mãos como água.

Os dias perdem o sentido, não sinto nada ou sinto tudo, meus pensamentos entram em colisão, sinto-me perdida em meu próprio mundo, em vão tento mitigar meus infortúnios.

Ao longe ouço cânticos que não conheço, ouço vozes estranhas e ao mesmo tempo tão familiares, entoando um grito de uma homérica coragem...que puxam-me e dizem, uma vez mais, vamos à luta!

Parecem-me lembranças de outros tempos, outros lugares, outras andanças minhas ou de outras vidas que observam minha agonia.

Talvez num lapso entre tantas loucuras que margeiam minha alma agreste, eu possa constatar que não vejo uma maneira de encaixar-me em algumas vertentes que tentam domar-me.

Convicta busco algum sentido em um mundo deformado, à tempos esquecido, aos que esperam minha corrupção, minha rendição...mil vezes não!

Não mudarei aquilo que nasceu comigo, existe ainda uma fagulha da chama viva que persiste em reacender meus caminhos.