DIVAGAÇÃO.

Por tempos, tenho sonhado. Ao dormir ou a olhar o céu. Tão fácil me parecia acreditar naquilo que, de olhos abertos ou fechados, insistia minha alma em enxergar. E seguia...Acreditava que reerguer castelos fosse possível, se começássemos pelos jardins. Pensava que as flores colhidas, durassem toda uma estação. E que os perfumes seriam, para sempre, suaves fragrâncias. E seguia...esquecendo-me da dinâmica do mundo, das inconstâncias dos sentimentos, da brevidade do sorriso e dos chamados do coração. Apenas, seguia...os caminhos traçados e trançados em passos cruzados. Atenção sem entendimento, questionamentos sem respostas, aceitação sem negação. Guardava em tocas, túneis, cavernas, muros, conchas; segredos. Desses de acreditar, confiar, sonhar e sonhar...e querer e cansar. Confiava na esperança equilibrista, na revolução dos bichos e também nas gaivotas, em tentativas de voos. Minhas crenças cabiam no meu mundo; somente nele. Por vezes, investidas existiram, no entanto, pela metade. Recuos assustados acabavam por vencer. E, de volta, outra vez, "segura", conformada, entristecia. Apagada e acomodada entre quatro estações. Quando, finalmente, desafiei a vida. Confiei-lhe as chaves dos meus segredos e minha direção. Cauteloso, guia-me o destino, esquecendo de me dizer que o sonhar sem viver é ponto final sem retroceder, e sem dar margem às reticências que prolongam o "a saber"...

Elenice Bastos.