Sozinha(s)

me sinto sozinha se não posso contar a alguém minhas pequenas grandes conclusões, as obviedades que descobro subtamente em uma música, em um livro ou em um pequeno evento de minhas experiências sensoriais. me sinto sozinha se não posso contar despreucupadamente sobre aquilo que tenho pensado, e mais que isso, me sentir ouvida e compreendida ao fazer isso. não compreendida como se pudessem sentir comigo as mesmas sensações, mas como se pudessem criar em si mesmos a representação daquilo que tento externalizar, por alteridade e consciência da minha existência.

me sinto sozinha se não posso ficar ao lado de alguém em silêncio quando a contemplação me roubar os dizeres, quando eu não consigo abrir os olhos e tocar esse mundo.

me sinto sozinha se não posso perguntar sobre tudo sem que nada disso seja critério ou condição, mas apenas o que são e sem mais.

me sinto sozinha se não conhecem a minha dor sem tentar cura-la ou cala-la. me sinto sozinha quando tentam me salvar ou inibir, e as vezes ambos ao mesmo tempo.

me sinto sozinha se não posso ter medo, ser fraca, ser tola, boba ou ignorante.

me sinto sozinha também, se ninguém vê em mim alguém para fazer estas mesmas coisas.

e parece um equívoco existir a palavra "sozinho" no plural, mas não é, é muito bem possível estarmos sozinhos no plural. Sozinhos acompanhados.