Auto-exílio (Para Jean Wyllys)
“Minha terra tem palmeiras/ Onde canta o Sabiá,/As aves, que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.”
Quem diria que no século 21 estaríamos, todos, de algum modo, exilados...vivendo em lugares que podem até ser nossos, mas isolados?
Quem diria que num tempo tão hiper/mega conectado, as lembranças e os desejos dos abraços seriam tão urgentes e o encontro, muitas vezes, impossível?
Que tantos de nós partiríamos sem tempo para despedidas? E teríamos que reaprender a esperança...
Quem diria que um vírus seria tão implacável e ainda mais resistente perante governos autoritários e descompromissados com a vida?
Que seria preciso se mover com imenso cuidado, mascarados, para evitar que a falta de empatia e o desprezo pela ciência fizessem morada numa terra que de plana não tem absolutamente nada.
E, que bom pensar que o mundo dá voltas...
Infelizmente, estamos assim.
Inacreditavelmente, MENTES foram moldadas em cavernas que replicam o MITO na mesma velocidade que a doença abate parte dos homens...e da humanidade.
Mas a arte, na sua força gigantesca, tem se imposto em milhares de encontros virtuais acolhedores. Nunca assistimos a tantos espetáculos, lindos e de graça. E esse tem sido o lado bom: O caos que se articula para o bem, para o que é bom e se contrapõe ao caos que se ergue para dar carga à destruição.
Vamos tirar tudo do lugar...vamos refazer e ressignificar as agruras destes dias difíceis. Eu tiro tudo do lugar para rever minhas ações, reencontrar meu eu e, num ato revolucionário que é o de amar, rearrumar a casa, a rua...o país. Tocar o mundo com a mágica de ser eu mesma e de sermos um só...dando um nó na insensatez que se aninhou ao longo destes tantos dias, como cobra traiçoeira que ensaia o bote.
“Não permita Deus que eu morra,/ Sem que eu volte para lá;/ Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá;/ Sem qu’inda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabiá”
Trechos do poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, com texto da poetisa, escritora e jornalista Iza Calbo.