FURNAS A ESPERA DA DESCONFIANÇA
Para começar, essa é uma historia triste, me fere e me faz chorar. Eu vou poetizar, ou tentar algo parecido para uma realidade de um sonho despedaçado . É maravilhoso quando se pode viver um amor de verdade, inteiro, intenso, eterno, mesmo que dure o tempo que venha ferir o coração. Porque já terá valido a pena essa pequena etapa de um amor incomensurável, guardado a sete chaves por dois corações silenciosos. Só que a razão é fria e insensível, amarga, covarde, ela nos remete a paixões , loucamente inexplicáveis. Então é assim que acontece, a água doce encontra-se, cedo ou tarde, com a água salgada do mar, e aí nada é previsível, é constante, de repente, tudo se perde, até o maior nos olhares, até os beijos mais dados e recebidos nesse drama tão triste. Mas quando é que se perde essa gana de verdade, esse amor que arde a alma, encolhe o peito, deixando-o do tamanho de um pequeno grão de areia? Esse amor não se perde nunca, eis a razão do meu grito entalado. Não resta dúvida que um sentimento tão arrebatador assim, encurta a vida, diminui nossa história, ou por outra, uma história com um pouco menos de vida. O amor chega como um quebra cabeças, e montar essa enorme figura é difícil demais da conta, as peças são tão iguais, pequenas, confusas. E não adianta montar 99,9%, tem que ser completo, porque assim é o amor, completo. Quando tudo não se encaixa, é como se nada tivesse sido encaixado. A peça da compreensão tem que bater direitinho com a da verdade. A confiança com o medo, o desejo com a paciência e por aí vai. Mas a falta de encaixe não é falta de amor, é um amor desequilibrado, acéfalo, desligado. A partir daí, nasce o mais terrível fruto do amor não encaixado, a dor do amor impossível. Mas o que fazer para, além desse amor? Cada qual com seu remédio. Eu canto para não chorar, entristeço mesmo ao imaginar um solo “cantado" por um bêbado de botequim. Para além do amor, só existe o esquecimento e a insônia, os momentos loucos, a falta de ponderação, a eterna sensação de que falta algo, uma saudade... É tamanha saudade, que na verdade, para além do amor, só a caridade da morte súbita, sabida, inexoravelmente, bem recebida. Os corações já se foram, os beijos morreram, os abraços perderam a força, restou um retrato, só um rabiscado retrato, que não lembra, não conta, não reacende, um retrato amarelo de parede que se faça constar, para depois que o amor passar. Para além do amor, a realidade, por que foi tão além? Por que não se cobrou limite? Porque o limite é a razão que inexiste nos amores impossíveis. O amor é poeira, é tronco de árvore, é água de Rio que desce sem freio, é água salgada que mata de sede. É sonho que expõe a realidade, machuca, corrói, destrói, evapora. É vida cheia de esperança, é criança abraçando, sorrindo, gritando, nascendo, desabrochando, é quase tudo, não fora ser quase nada. Tudo isso parece não fazer sentido, inserido em uma prosa poética, uma mistura de acalanto amoroso e um doloroso texto lavado no álcool da cachaça . Agora pergunto, e o amor de dois espíritos, separados em terra pelos seus próprios conflitos, enterrados até a alma na culpa de uma saudade insuportável? Fica um choro exprimindo entre a culpa e uma ponta de esperança, entre a seca e o mar, entre o tempo de amar e o que resta de tempo para viver.