Abandono
Um negrume resvala nas bordas do arrebol. É noite que desce riscando solidão pelos beirais dos lábios sem sorrisos. Um olhar passeia pelas distâncias e debruça-se em lágrimas pelas saudades esculpidas nas ternuras intensamente sentidas.
Despudoradamente estrelas cintilam a luz que não são delas. São réstias de sóis deixados em pedras. O opaco das ilusões é mesmo assim brilhante.
Vaga lumes exibem o brio lumiando à sua volta, sem sol perdido em restolhos. A simplicidade e pequenez são legítimas grandezas.
Caminhos da vida nem sempre fazem a curva adiante. Chegam ao término sem saber exatamente onde vão dar. As tristezas no íntimo delas sorriem com os charcos debulhados sem dó pelas dores emocionais.
Mas é que hoje a noite veio mais silente do que antes. Despejou luar pelas frestas das nuvens e tingiu de claridade apenas um cantinho desse olhar naufragado no mar das emoções. No espelho, fatidicamente as poesias dizem nada das inspirações. A face é o próprio lenço afagado pela brisa que entra pela janela.
O tempo rumina pedaços de cenas vividas com a boca aberta, para a garganta saber dos infindáveis dias e noites que ainda tem que engolir. O universo e a essência dos seres nunca se digerem por completo. Todas as histórias são sem fim, apenas se vestem e dizem de um mascarado epílogo que na verdade é só mais um capítulo.
Mas é que hoje a noite desceu triste e se abandonou de escuro em tudo.