A beleza que há por trás da tristeza

Embora o mundo cobre que sejamos felizes o tempo todo, nós sabemos que isso não é possível. As manifestações de auto ajuda, os meios de comunicação, as redes sociais tentam nos vender a todo custo a utopia da felicidade perene, nos bombardeiam com essa cobrança descabida e com isso nos roubam o direito à tristeza. Como podemos ser felizes o tempo todo se não se pode ser feliz com dores e, estamos rodeados delas, algumas nossas, outras de entes queridos e há ainda as dores do mundo que nos atingem mesmo à distância. Somos uma engrenagem delicada acionada por um simples toque do pensamento, um cheiro, um gosto, uma imagem, um som que imediatamente nos remete à lembranças, algumas felizes, outras nem tanto assim. Nossos sentidos são radares ultra sensíveis, atentos a qualquer estímulo. De repente, no meio de um riso solto somos alvejados por um dardo repentino de tristeza e nos vem aquela sensação inquietude, de não encontrar o bolso do coração para colocar as mãos e esconder seu tremor. Com o intuito de esconder a tristeza sorrimos para a nostalgia e a beijamos com gosto de sangue na boca.

O que as pessoas não percebem é que existe uma alegria na tristeza, existe uma beleza oculta nas coisas tristes que a gente insiste em ignorar. Há um mundo de pequenas emoções por trás delas, há mistério, há poesia, sonhos adormecidos que vêm nos tocar, músicas que inesperadamente vêm nos tirar para dançar, há amores supostamente esquecidos, há o universo da nossa infância, o infinito amor por nossos pais, irmãos, amigos. Há tanta história registrada na caixa preta das nossas emoções e nunca sabemos em que instante seremos obrigados a acessá-las. Por isso, não se cobre demais felicidade, mas também não corteje a tristeza. Permita que ela venha te visitar, sente ao lado dela, tome um café, só não a convide para ser seu hóspede, não ofereça o cômodo mais importante da sua casa para que ela possa morar.