PARTIR PARA FICAR

PARTIR PARA FICAR

Tenho diante de mim dúvidas que pululam. São incabíveis em qualquer verso que hoje eu posso produzir. Não quero uma autoconfissão sobre os temores que me assolam ou as fraquezas que me atingem. Então visto essa armadura que evidencia ainda mais minhas fragilidades. Mas é meu direito calar tanto quanto é de rugir. Meu nome inscreve meu destino, no qual anseio não ser pouca coisa. Você que não me conhece tem o direito de discordar. Prefiro pensar assim para que o avanço se dê na crença. Creio-me.

Essa angústia se dá por não dispor de todos os artifícios. Não sou futurista, cubista, dadaísta. Digam-me que sou egoísta se acreditaram que não dar aos outros o que não detém é digno de assim ser adjetivado. Digam-me que sou porque quis viver minha vida, ainda que a meu modo tenha desagradado.

Parece que a mudança deu-se aos poucos, mas, na verdade, ela sempre ocorreu, emoldurando-se nos meus motivos pra lutar. Quando esmoreço, recordo-os. Não é fuga, não é tentativa de provar aos outros. É a própria autoprovação. Estou apenas indo em busca de mim. Para tanto, parto, parto para me sentir inteiro.

Sobre minhas mãos sonhos repousam. Todos os dias eu os afago. Feito pássaros libertos, mas que anseiam permanecer. Certamente você também tem algo que almeja intimamente. É uma luta diária que você deve travar, mas receia que os obstáculos interditem sua voz. Não. O que nos retira a voz são as ausências. Mas essas às vezes são bem fáceis de resolver. Veja: eu, por exemplo, estou a escrever esse texto como forma paliativa. É uma terapia que faço para que a trajetória não me enfarte.

Nunca quis aparentar ingratidão. Não nego que há verdadeiro amor, mas ele se mostra nas entrelinhas enquanto espero transparência. E à tona o que fica é um vazio. Um amor que se preserva pelo discurso metafórico. Mas é só um disfarce. Por isso, vez em quando, preciso gritar, chorar, pedir colo e retroceder. Se estou saindo desse casulo é só para que eu me conserve mais belo e possa retornar com um jeito mais brando de amar.

Agora o domínio é meu. Essa proclamação não se construiu da noite para o dia. Ela foi se erguendo no decurso de muitas lágrimas. Hoje sei do seu valor. Agradeço o fomento dessa salutar agressividade edificada pelo desgosto. A luta já não pode mais ser adiada. Quando as diferenças se tornam fardos, o melhor a se fazer é retirar do campo os instrumentos que tolhem o crescimento.

Sei do seu desejo de ser melhor, mas os laços já chegaram ao seu termo. Você fez o seu melhor. Desculpe-me por não poder mais ficar, mas espero que permaneça o melhor de mim porque, nesse desamparo existencial, reciclo o que de mim não sei mais. Estou aqui. E não estou mais.

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 21/06/2021
Código do texto: T7283448
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