Solilóquio
O frio escorre pelas vestes de cerração e invade o meio dos ventos, incitando-os a bailados leves na manhã, exibindo na barra de suas saias longas, arrepios que pingam na pele da gente.
A vida é poesia declamada pelas incertezas de tudo.
Dizem que o tempo escoa-se, quando na verdade ele apenas conta sua passagem interminável, como elos incontáveis de uma corrente em movimento numa engrenagem segura e indestrutível e sempre reta.
Caminhos se cruzam pelas construções e empecilhos que colocamos no meio das direções.
Amores e dores dormem no aconchego da inocência, até que se encontram com o inevitável crescimento, e surpreendentemente se dão os despertares dessas emoções, às vezes de forma amena, em outras com repentinos alardes. As evoluções são partes que se integram somando aprendizados.
Bom, pelo jeito o dia seguirá frio. As brumas se dissipam lentamente. A vida vai acontecendo nas tecituras poéticas das linhas do tempo.
Olho os jardins. Parecem contar histórias no cair de cada folha, para o germinar de tantas outras, num berçário de emoções caladas ainda.
Na rua, as pessoas seguem cultivando expectativas. Inocentemente despetalando jardins de ações e inércias em bem me quer e mal me quer.