A POESIA DO SILÊNCIO

A POESIA DO SILÊNCIO

É comum este silêncio. É mais que comum – é comunhão. Comungo nas cidades que me transcendem para as palavras. A poesia entornada no chão é um tornado no céu. Predisponho dos limites que sobrelevam minhas asas. O outono é cantado pela cigarra. A cigarra canta o outono. Em tônus os ovos nos ninhos eclodem os pássaros. A espera se desfaz em cascas. Igual ao amor em lascas, se lasca. As formigas modificam a terra - e nós aterramos o planeta num escarcéu de ânsias. Na ambição de ter casas, descasebramos a maioria. A maioria tem voz minoritária. Estarão comendo areia enquanto areiam suas panelas, como forma de deixar um mundo infosco?

Zig e Zag borboleteando sob o sol. Nada se parece com o casulo; talvez uma casa sem afeto, que se rompe aos poucos. Depois, um bafo quente para ressuscitá-la . Será possível? Enquanto seu hálito não ferveu no quotidiano – latejará nesse instante moribundo?

O firmamento firma a mente da matina. A noite acende. Vagaluminosidade. Perda e pedras. Coruja insábia. Sabiá sábio.

Achei um corpo adolescente. Sou culpado sem culpa. Está chovendo há dias e nada além dos ventos é adiado. Escuto, depois enchente. Gente. Peço desculpas às águas que se moldam em mim ante a massagem.

Não sabes em quantos cultivos trabalhei e nunca recebi a colheita. Busquei a verdade na terra, mas ela estava no inesperado. É como se a terra tivesse me possuído o tempo todo. A morte só me tirou a procura e o desejo e os planos. Como evidenciar um nada? Toda gaveta utilizada por mim era um depósito de papéis rendidos à procrastinação.

Quando me casei, parei de cobiçar o amor. Tive que inventar as infâncias dos filhos que não tive.

Pascal dizia que “Toda a infelicidade do homem decorre de uma só coisa: ser incapaz de ficar sossegado no seu quarto”. O problema é que já sosseguei-me tanto; a inquietude arrombou a porta.

Todo poeta quer ser maior que a palavra. A poesia é feita quando o significado é maior que o símbolo. A simbologia do texto nem sempre é alcançada pelo leitor, mas a tensão entre o verbo e o ato cria essa atmosfera de indignação. Estar entre o espanto e a lápide.

O passado começa a fundir o dito pelo adito, que não é o desdito, que não é a desdita. É uma língua em constante reinvenção. Todo livro lido é uma solidão, seja minha ou do autor. Sou autor de todos os livros que leio. Condeno e absolvo meus olhos a cada linha. De repente, ganhou-se corpo, uma mulher veio contar-me uma história. Não sei o seu nome. Não gosto de nomear nada. Nenhuma coisa ou pessoa é estática. Cada nomeação deve ser trocada de momento em momento. Esse silêncio é um grito.

Leo Barbosaa
Enviado por Leo Barbosaa em 17/06/2021
Código do texto: T7280704
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