Recortes de sol
E antes que amanheça pego um resto de luar na quina dos teus olhos. Pingos de estrelas escorrem pelas réstias de céus na palma de minhas mãos, quando ainda em meia luz deslizo-as sobre teu corpo nu.
Solfejo canções nos cantinhos de teus silêncios, quando em sedução me chamas com desejos, só com a serenidade de um sorriso. No quarto teu perfume paira no ar e dança nas rendas de tua lingerie incitando-me a fazer amor mais uma vez. Então amanheço no horizonte de teus seios, deixando orvalhados meus lábios no chão dos teus, enquanto poros em minúcias misturam umidades e calores em cada milímetro de nós.
Na janela do quarto o sol atira luzes que são cortadas pelas persianas; e mesmo fatiadas, riscam os lençóis bagunçados em tiras horizontais e amareladas. Abro a janela para que a brisa brinque no teu rosto, obrigando-te de vez em quando a um meneio de cabelos que gosto de ver.
Levantas-te e chegas ao meu lado debruçando no beiral da janela. O sol agora sem rasgos abraça-nos confortavelmente. Olhamos o jardim com pétalas espalhadas no chão pelos ventos nos abandonos da noite. Parecem sorrir desordenadas tais quais vestes despedaçadas em pura poesia. Tudo fica romântico quando a plenitude acontece nas emoções sentidas.
De calenturas teu corpo nu se volta para as vestes de meus braços, deixando a luz do sol novamente talhada, abaixo de nossos queixos e sobre teus seios em meu peito, no momento em que colo minha boca na tua.