Pobre aldeão
Clique
(interruptor ligado
pela ação do tempo)
Pronto. Cintilam as luzes do céu
No augusto bordel da periferia
Pela eloquência de muitas vozes
Os sons desregrados, amalgamados
Esgotam minha pouca paciência
A orquestra erra feio a sinfonia
Alucina o naipe dos tímpanos,
Desarranja a filarmônica todinha
A coxia? Vila Nova Cachoeirinha
O burgo? São Paulo – SP
— Toca O Quebra-Nozes, do Tchaikovsky
O Quebra-Nozes, caspita!
Mas não, eles não atendem a pedidos
Jesus-Maria-José
Defenderei, pois sim, os meus ouvidos
Meu confrade... Soltaram um batidão
De corar a comadre Dercy Gonçalves
Tudo bem, foi só um carro que passou
Cruzou a rua gastando graves horríveis
Levanto ainda tonto de susto
Custa a alma grudar no corpo
Da manhã, só queria o gorjeio
Dos pássaros, esteio do canto
Impossível
O ruído ao redor tudo atormenta
Tenha dó, oras. Tudo arruína
Pane épica no sistema nervoso
Tela azul da morte do Windows
Chamem o técnico em informática
Chamem a força tática e o capelão
Uma junta multidisciplinar para ajudar
Na possessão demoníaca do pobre aldeão
Nada de cruzes, alho e água benta
Não é assim que se afugenta a entidade
Na verdade, ela só vai embora pagando bem
Quem tem boca vai à Roma. E dinheiro?
Exílio na lua em primeira classe?
Quero. Livro do Saramago na mochila,
Gudang Garam pra dar um trago,
Limão, sal e tequila
Nos terráqueos, um afago. Fui