a que nunca disse adeus
Ela descia os degraus, que deixavam a pista, juntando os joelhos, os tamancos fazendo um barulho seco, já rindo para a praça à frente.Não era praça, olha só é um supermercado.O seu cabelo, liso e preto, balançando como um pendulo assim amarrado para trás; de vez em quando puxando a blusinha de alças finas que deixava o umbigo a amostra; a calça jeans, sem cós, por muito justa lhe dava um rebolado.Entrava no mercado cumprimentando todos, de funcionários a clientes, com os dentes arreganhados, indo procurar o caixa eletrônico no canto secreto dessas lojas.Parecia continuar observando a todos obliquamente, dando uma tosse sequinha e disfarçada enquanto a maquina não ejetava as notas.Tirava-as com o mesmo desdém picardio com que se virava a notar que os amigos a olhava, mesmo aderia as gracinhas rindo mais do que era preciso.Parava mesmo junto a um e ficava falando muito, gesticulando ao mesmo tempo que ajeitava a bolsa de vinil entre o ombro; olhava para os lados, rindo, embora parecesse desconfiada e sentinela.Girava nos calcanhares parecendo dizer adeus, mas se voltava como se fosse atacar e gargalhava mais alto junto com a pessoa.A gargalhada por ora até parecia querer derruba-la ou simplesmente d desajeita-la.Sentia-se desorganizada no que os olhos corriam pelos cantos, mas gargalhava seriamente para desinchavar.
Secretamente não sabia como ir embora já que o até logo era se indo, batendo os saltos dos tamancos na calçada suja, olhando para frente, esquecida dos que deixara para trás, antes acenando com as pontas dos dedos, num meio sorriso, para o vendedor de cocos no meio fio, ou era para o motorista que parou e buzinou?
Sei que ela voltava sempre com a mesma graça.
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Rodney Aragão, 17 de outubro de 2007