FRAGMENTOS ( II )
No estrabismo daquele olhar de janelas -na soleira da mais desbeiçada - um par de olhos cansados vagava na solidão amarela das borboletas no pé de açucena.
Entranhado no laranjal, um sabiá quebrava em miudinho o silêncio ambarado da tarde de pouca luz.
Sobras de café sobre a mesa, e do fogão ouviam-se recados borbulhantes de feijão em cozimento.
Na casa escorria uma carência desbotada das paredes sem pintura e um gato enovelado na cadeira, sonhava telhados lavados de luz por onde um dia ainda haveria de reinar.
E aquele olhar na janela , mergulhado na tarde morna , delatava um coração prestes a explodir.
O quintal era seu mundo e no condomínio das alfaces, joaninhas fofocavam serenas.
Esquivando-se no pé de buchas, a cerca de ripas delimitava o território de uma vidinha insípida.
Quisera ter asas e voar!...voar!...
Ir para longe, muito longe...
Então o céu esmaecido, subitamente borrou-se de verde e um bando animado de maritacas lhe convidaram.
Os olhos marejados deram-lhe asas e o convite foi aceito.
Joel Gomes Teixeira