BEIJO DE ADEUS

Eu posso sentir o peso da partida sobre minhas pálpebras e, em minha boca, o gosto amargo do beijo de adeus.
A música em meu peito toca descompassada, desejando dedilhar mais uma melodia.
O silêncio invade a minha casa escurecendo rapidamente as janelas da alma.
Meu último grito sai em forma de suspiro.
Fui interrompida!
Não me ouviram em vida, quando gritei com a exuberante força dos meus pulmões.
Calaram-me com negações certeiras, cravando em meu peito a foice da morte.
Agora, qual será minha sorte se as flores já fenecem em meu jardim?
Se o sol já não aquece mais a terra com seu calor?
Se brilho das estrelas já se esvaíram na vasta escuridão do universo?
E as cores vibrantes do arco-íris desbotaram ao beijo molhado da chuva, carregada de saudades?
O que me resta?
O que me espera no novo palco além das cortinas reluzentes no final do túnel?
Isso nunca serei capaz de lhes dizer.
Só peço que, a minha voz nunca se cale nos corações daqueles em que eu tive a oportunidade de cultivar o amor, e que o meu sorriso esteja sempre nos lábios daqueles à quem tanto amei.

Homenagem a uma mãe e amiga vítima de feminicídio.
Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 31/05/2021
Reeditado em 31/05/2021
Código do texto: T7268152
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