A FALA DO MISTÉRIO

Poesia é linguagem do coração e não tem destinatário certo. Esta é a peculiar maneira de me sentir humano: a de confluir no Outro. A rigor, nunca se sabe o que o semelhante realmente pensa e, portanto, o que ele quer.

Linguagem universal, muito além do que o idioma predominante na proposta poética, que é, apenas, um instrumento de comunicação. Por ela, o outro polo cria o que necessita para viver sob a luz dessa nesga de felicidade. Qualquer outra linguagem é estritamente passageira e/ou insuficiente.

Sou apaixonado pelo encantamento da palavra dita ou escrita, e, na mesma tônica, pelo necessário silêncio, aquele falante por si mesmo, nos atos que realizamos como resposta às ausências de sons e murmúrios.

Enquanto a poética é a voz do mistério, o silêncio é palavra em eternidade. Algo com identidade de cochicho, em solitude.

Tal é o instante que ora convivo, o exato momento em que me dirijo à tua pessoa, num formato em que não importa se os dialogantes são Maria ou Pedro, e, sim, o que a alma ressoa, e se abraça com avareza às nossas peculiaridades, num gesto pleníssimo de aceitação.

Como bem podes ver, tenho infinitamente mais defeitos do que virtudes, mesmo assim insisto em pedir perdão ao mundo através da palavra não dita, aquela que perdeu o desejo de voejar, que se negou por resiliência, heroísmo, excesso de zelo ou egoísmo.

Dá-se nessa formulação o diálogo no plano poético, no qual tudo se apresenta muito mais incomum do que possa parecer e que é, no mínimo, desbragadamente inusitado àqueles ainda não iniciados.

O espiritual diz a que veio: um cadinho tocado pelo Absoluto, em andrajos dolorosamente humanos.

MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2021.

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