De madrugada
A madrugada despeja minutos vagos no chão das horas insones. Desfolham-se os outonos para escorrerem para os pés dos invernos.
Névoas se prontificam a ficarem unidas para a brancura existir no meio do escuro. Sabe que a manhã as recebe no limiar dos horizontes, mas não impede que as brisas e o calor do sol, as dissipem para que se mostre o azul celeste. Assim a vida nos seus sopros matinais de construções e depois crepusculares de descanso após cada obra realizada.
Da janela do quarto espio a rua deserta. Parece extenuada de emoções, contando minúcias à toa ao silêncio caminhante das solidões deixadas em cada canto. Ventos leves parecem escrever poemas em perfumes, quando assaltam pétalas descuidadas na fragilidade dos desabrochares das flores em puberdade. A vida acontece na sua mágica naturalidade. O tempo vai cunhando saudades deixando-as espalhadas pelos caminhos. E segue andarilho e mesmo sem paradas, está certo de estar em todos os lugares na sua infinitude.
Escorre orvalho, acho que descido dos olhos das estrelas que cintilam distâncias. Deito para ouvir histórias dos retalhos que enchem o travesseiro e dos que me remendam de sentimentos diversos em tantos monólogos.