Lembranças em sépia
Hoje sou barco singrando pelas calmarias, tentando pescar ilusões náufragas. Lanço tarrafa nas costas do mar, vejo-a sumir em águas com rastros de sol. Puxo-a novamente, trazendo em sua tecitura, vazios que pingam salinidades. Deixo poemas tristes pendurados nos vãos das minhas saudades. Solidão é navegação sem bússola que se perde nas enseadas sem sorrisos.
O mar vive só para o mar. Na sua grandeza não se enleva com olhares de encantos e nem de espantos que ficam na praia.
Ao longe os coqueirais se estendem como que tombando os ouvidos para as canções dos ventos. Nuvens desfiam brancuras deixando-as ralas ou amontoando-as para desenhos diversos. Voejo pelas alacridades das alturas e despenco de uma vez para as tristezas dos abismos. Vejo que sentimentos às vezes são subúrbios sob fachadas de emoções nobres.
Então hoje sou barco sem vela, remando pedaços de tarde pelas ausências sentidas. O oceano espalha maresias e vai tatuando as superfícies metálicas de ferrugens, assim como o tempo em minhas emoções imprime lembranças em sépia das lonjuras de ti.