Esterilidade

Vou adentrando mais um dia

Cansada, arrastando correntes

Deixando pra amanhã os planos feitos

empurrando pra outro dia, quem sabe amanhã, eu faça algo à respeito

Tenho amontoado um pira de coisas, tenho adiado prazeres, projetos, tendo acima de tudo adiado viver...

Apenas sobrevivendo a esterilidade,  inventando subterfúgios, que uso pra lidar com a dor, com a falta coragem.

E vai-se repetindo os dias, as mesmas pontes desfeitas, o mesmo vôo adiado

vou desviando de novos horizontes, melindrando possibilidades, estagnada como uma mobília velha, empoeirada em meio a passagem.

Tenho evitado aventurar-me, evitado a luz do dia que fere-me a retina

Quero subir a superfície, poder respirar...

Vou vivendo esses dias desbotados sem méritos, sem excelência

abortando planos antes que venham à existência.

Vou saboreando o fel das palavras, sentindo o peso das asas quebrantadas,

o peso dos versos que não escrevi

vou adentrando mais um dia, quebrando, matando o tempo fugaz que teima em ditar regras as minha via crúcis diária.

Adentro à luz do dia com ares de mártir em uma guerra que não deixa seus guerreiros mortos pelas trincheiras,

é uma guerra vil, que acontece no silêncio, bem aqui dentro, que fere-me a conta gotas a cada momento.

Eu adentro uma guerra sangrenta, sem máscaras, sem fingimentos, esperando que as trevas dissipem, e que eu possa enfim dar à luz aos versos.