A velha morta e má
As velhas endinheiradas orbitavam sobre o corpo da irmã menos nutrida.
Seus óculos escuros omitiam as geleiras quase tão pálidas quanto a própria morta, quase tão frios quanto a sua pele.
Sobre a desgastada massa amorfa ainda pairavam as sutis emanações de sua aura de inclemente árbitra e cruel anfitriã dos impudicos todos que a cercaram em vida.
O banquete frígido e falso era servido a expectadores igualmente distanciados pela negligência e indiferença.
A morta poderia levantar-se e protestar em defesa própria, reivindicando algum amor, alguma afeição, mas petrificada pelo próprio pecado não era capaz de emitir palavra alguma que lhe justificasse as crueldades e asperezas que a indignificavam a história.
As irmãs, embora preparadas, não conseguiam chorar, falseavam na superfície da aparência sentida e dolorida, enquanto no âmago eram alívio e festejo.
A mulher, moralista e má, não deixava haveres, nem deveres, nem trabalhos, nem indulgência. Partia na indigência completa dos anônimos que só se celebram por dever e compaixão, sem pranto nem saudade.