Borboletou com a Asa Dura 29
Depois de nove anos dos primeiros sintomas da doença, no auge dos acontecimentos que provieram do supetão sofrido pelo mundo, por conta do surgimento de um novo vírus contagiante , levou a Borboleta-mãe esbulhar a memória, reescrevendo parte da história vivida.
Traz como troféu todo o sofrimento e superação de parte dele? Querendo mostrar para os iguais, que depois, qualquer outro problema pode ser menor?Está pacificado a completude interior pelo sofrimento, e junto dele tornando-se mãe?sendo este, o principal e único propósito a realizar? que arrastar o corpo para todo lado, ser dependente de cadeira de rodas, sofrer as sequelas da doença, não significa nada? Castrou o intelecto, fazendo as pazes com o Divino, e o modo das religiões interpretá-lo, inclusive aquela que participava, onde fazia questionamentos e objeções em face de suas práticas ? Está liberta da condenação da raça humana, de ter de estar submetida às intempéries do mundo, e da força da natureza, que a domina, inclusive o corpo físico que porta? Usa do meio da palavra para adornar justificativas que maquiam e suplantam a dor de ser gente, portadora de deficiência física, da certeza da finitude, fracassada na tentativa de ser feliz, subordinada ao império dos mistérios que guardam a resposta de quem somos, o que somos, para onde vamos? Tudo para forjar o fato que a mantém como borboleta que sobrevoa com a asa dura, que continua sobrevoar com a asa dura, mas agora com “arte”?
São perguntas que de algum modo seriam respondidas, por si, ou por outrem, que em última instância estaria o intelecto como base. Seja com o respaldo da ciência ou do ego, passível de refutação, à luz do critério da falseabilidade e refutabilidade da Teoria Científica.
Como sempre, o intelecto sobrevive o mesmo daquele vivido pela menina que ficava com os olhos fixos no pregador nos templos, ou na escola, quando o professor falava, onde os porquês, como e quando, surgiam como cavalos trotando na mente. A Borboleta não o abandonou. Ele o tem.
Em Si, convive a comunidade de tubarões e de corais, de peixinhos, inofensivos e cruéis, belezas e safadezas, subterfúgios e manobras, que se entrelaçam.
Depois de tudo, por mais que pareça absurdo, e “coisa de poeta”, subsistindo a presença deliberada do intelecto, não tem um segundo sequer que deixou de sentir o fluxo do oceano, vida.
Mesmo que nunca conseguiu enxergá-lo. Vibra, permeia seu ser, impregnante, todo penetrante, Onipotente, Onisciente e Onipresente no Ser que habita. Independe do que é, do que pratica, do que quer ser e realizar. Domina-a.
A tagarelice, que muitas vezes se mantém com o intelecto, todo engomadinho e exato, degusta dela por pouco tempo. Vai perdendo a graça.
Aos poucos, vê a mente como aquário, e os peixinhos dentro.