O Porre Perfeito
Precisei do porre, da bebida mais ardida, que me tirasse do foco de não poder ama-lo e precisar recuar dos meus impulsos mais apaixonados, foi assim, de gole em gole, que me hipnotizei de outras sensações que me fizeram apressar para mudar o pensamento e esquecê-lo.
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Bebi no gargalo, eufórica e abusiva, no estômago queimava a ferida, nervosa, irreconhecível, vívida, límpida, na dor despida, e para quem pudesse ver, havia uma sombra púrpura de raiva e decepção, tudo em mim era ingratidão, desprendida de razão ligava-me a própria rejeição.
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Aos tombos levantei para cair, zonza, sem conseguir ser banhada por um chuveiro morno, perdurava frio e calor, que não resgatavam lembranças de um fogo ardente em êxtase antes entregue por lealdade, e a máxima conquista era segurar-me as paredes, pintadas de solidão e medo.
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Sentido o rigor do teor, incapacitada de exercer uma só defesa que afagasse o meu ser devastado, deixei na porta um bilhete vergonhoso, sai maltrapilha, com o rosto borrado, os cabelos desfeitos, desprovida, valendo-me apenas de uma lógica desconhecida que me pôs de pé.
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O porre era poético e não abandonei a casa, estou deixando a causa, para que a deixa de outros amores me despertem melhores sentimentos, me deixei embebedar por minhas palavras, porque sabia que nelas encontraria o porre perfeito e a minha reconexão.
CarlaBezerra