Voo de borboleta

Em lentas batidas o coração acelera o passo em direção ao encontro de mim mesma. Numa trajetória ainda inexplorada subo e desço num movimento leve como se o vento me levasse ao desdém de alguém e eu me contivesse em existir ali.

Em outro movimento sinto-me envolvida por uma explosão de sentimentos que por um lado me mantém no chão e por outro me fazem flutuar freneticamente em busca de superar-me cotidianamente.

Numa reta perpendicular movimento-me num ângulo que gira, agora, em noventa e nove graus sem sair do lugar, impulsivamente observo tudo que for passível de contemplação, buscando a condição de se manter na direção de viver uma constante, mas o mundo gira e quero lutar para sair do lugar, contudo sigo girando e quando tudo está de cabeça para baixo eu enxergo as possibilidades de resistir. Resistir sim é uma constante, delirante talvez, mas é o que me acalenta a alma. É que resistir significa na minha labuta respirar, é oxigênio para sobreviver e não perder a fala. O meu lugar de fala é um desdém de alguém e até essa condição saltar a flor da pele e me doer a vida se encarregou de me fazer apanhar tanto a ponto de eu pedir para ficar e gritar que não ia desistir porque entendi que minha condição pode melhorar.

A cada passo dado me encontro e desencontro, me amarro e desamarro logo entendi que a constante que queria viver é na verdade um rio que se renova a cada dia e que desagua todas as minhas versões diante dos meus olhos, mostrando-me que mudar é inerente ao ser humano, mas enxergá-las e deslacera a minha alma.

Então compreendi que nunca serei uma constante, que a batida de minhas asas ganha força com cada uma de minhas versões, que mudar é possível, que a condição de desdém de alguém pode não ser permanente e que tudo depende da mediada que compreendemos o interior da gente. Entendi que cada passo é significante, que na trajetória às vezes é preciso dá uns passos para trás, que haverão passos em falsos e que preciso me levantar após cada queda, que é necessário me refazer e me tratar com dilação e cuidado.

A duras penas entendi que a liberdade existe e é passível de vivê-la, que existir dá trabalho e manobra seu voo por várias estações e que a constância é pura utopia, porque mudamos todo dia, porque alteramos nosso caminho, fazemos escolhas, mas seguimos nosso destino que permanece inalterado. Ninguém muda o destino, porém voar é preciso, não precisa de muita regularidade, deixe-se viver as transformações, sem pressa mantenha-se em um voo mais lento, como o balanço de uma borboleta e resgate-se.

Driely xavier
Enviado por Driely xavier em 06/05/2021
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