A poesia me chamou
Eu roubei palavras nobres dos livros de literatos e letras soltas que voavam a esmo por aí, na boca do povo...
Às migalhas que caiam da mesa farta dos poetas, misturei frases que criei de luz própria e joguei tudo num balaio sem fundo.
Coloquei vento dentro, sentimentos, algumas tempestades e lembranças do tempo em que eu era criança:
Estilingue, bolas de gude, guerra de mamonas, pipa, pião, balão e fugas de casa para o campinho de futebol.
Juntei ainda nesse balaio, frutas frescas de quintal, cantigas de roda, brincadeiras de pique e muitas estripulias.
Depois acresci amigos, amores, bailes e acampamentos à beira-mar, quando me percebi, já era adolescente.
Assim me chegou a poesia e foi entrando com o primeiro pôr-do-sol na estrada, com o primeiro amor, o primeiro beijo.
Depois as letras passaram a me contar outros caminhos. De repente já era agora onde estou adulto, com todas as dúvidas do mundo.