Borboletou com a Asa Dura 26

Borboletou com a Asa Dura 26

Se descobriu na liberdade para fazer as escolhas, num ambiente hostil, que era seu próprio corpo sem os movimentos, exposta a correnteza dos acontecimentos, onde morrer ou viver dependeria não somente de todo arsenal da medicina, e mãos para o cuidado do corpo, mas, elementarmente, que mantivesse na respiração.

Estava em Deus, e no Universo, ao fato de que para participar da vida, haveria a necessidade do ímpeto para fazer as escolhas, aquelas que a manteria viva, e digna para si mesma.

A Fonte Divina não reagiria um dedinho sequer para tirá-la do lamaçal de dor, a não ser se fosse esta a vontade constante daquela que vegetava, vivendo sustentada por alimento interal, por meio de um condutor introduzido em uma das narinas, e do ar artificial entrando e saindo pela traqueia, viabilizado pela vontade na arte do respiro.

Não somente a vontade, mas a ação correta, a arte de respirar.

Foi na ausência do movimento para o levantar e baixar os pés, as mãos, a cabeça, o tronco, todos os membros do corpo, que a mulher insatisfeita com a existência, se descobriu.

Limpa ou não a traqueia, buscando a manteça da constância da entrada e saída do ar nos pulmões. Queria estar viva!

Os dias foram passando, o ego foi se revelando em meio as escolhas, o sentimento de desprezo, do abandono, as impressões que vinham ao juízo na relação com aqueles que a assessoravam no cuidado e tratamento.

Reconheceu a si mesma como antes nas empatias e na antipatias, o ego estava presente, mas não o corpo para corresponder com o outro nas emoções.

Daí que foi exposta a pedra bruta a ser amaciada na resiliência.

Podia irar dentro daquele corpo quando não era limpa da sujeira , de ser aspirada no tempo que esperava, berrar pedindo ajuda externa para limpar sua saliva, tais expressões não eram correspondida, não havia movimento da boca, do pescoço, dos braços, das pernas, se não fosse na hora do ajudante.

Regozijo passou ser quando ouvia o barulho da luva sendo colocada pelo enfermeiro para ir aspirá-la, quando a baba estava ressecada na traqueia quase ao entupimento, a esperança de viver reacendia, e o estado de felicidades se consumava quando sentia o caninho da aspiração sendo levado pela mão do enfermeiro até o final da traqueia, realizando a limpeza, liberando o fluxo do ar para que a renascida pudesse continuar na vontade de respirar.

Antes, para aquilo que fazia mal, fugia; pegava o carro para dar uma volta, levantava do lugar e saía para buscar outro sentido.

Descontente com um fazer, mudava para outro, doente, ia ao hospital, coçava o nariz, atendia à coceira num leve roçar dos dedos no local, na vontade de defecar ou urinar, ia ao banheiro, sendo a única testemunha da liberação do putrefação que sai do intestino e da bexiga.

Beber água, virar cabeça para outro lado quando algo não a agradava, sorrir, pedir algo, gosto dos mais insignificantes para o ser humano num corpo perfeito, foram despertos numa nova ressignificado.

A vida, ela, e o ego. A conversa com Deus foi iniciada pela primeira vez.

Eu quero viver!

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 04/05/2021
Código do texto: T7247890
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