Ao sabor de Cécias
Já é outono.
Ácida me desprendo.
O abscísico me faz indesejável.
Expulsa caio.
Caída e descorada fico ao léu.
Entre o chão e o céu.
Me espalho a esmo...
Ao sabor de Cécias, me movo.
Como se movem as folhas dos coqueiros à beira mar...
Conforme o vento...
Sigo...
Sou arrastada para o litoral...
O Vento Nordeste está instável! Inquieto! Incontrolável!
E quer me ver arder no sal...
É a lua cheia!
Altiva! Autoritária! Determinante!
Chama Cécias e ele vai... Levando tudo!
Carregando as águas com sua sede voraz...
E eu, folha enferrujada, pecíolo solto, sigo viagem...
Em frente à praia faço paragem, miro a paisagem e fico em paz.
Mas o Vento Nordeste, mais atípico, pôs a minha maré em vazante.
E eu que já me atirei na maré cheia, agora me deito na areia...
Chorando! Com medo da seca...
E quanto mais a lua arrasta o meu mar para a outra banda do planeta, mais eu me estico para o tocar...
E o vento ingrato não volta para me buscar.
Quem dera eu pudesse nos braços dele me lançar.
E fugida da rebentação me desprender de novo e mergulhar...
Na suave espuma me deitar...
E no seu sal me curtir!
Limpar a minha aura e me sentir a própria Iemanjá.
Sobre as ondas flutuar...
De mãos dadas com o meu Netuno, amar...
Saciada e nele envolta, voltar...
Pra costa. Serenar...
Pisar na terra, onde ele sonha se assentar.
O meu mar é natural. Tem alma de lavrador.
Quer cuidar da natureza.
Plantar, colher...
Se fartar de ar.
Enfim! Viver!
Mas para isso Cécias precisa sossegar.
E a lua, o seu brilho esmaecer.
Sua força abrandar.
Meu pecíolo retornar ao galho do tronco que me soltou...
Num elo remissível!
Mas, se o meu sonho bucólico vai se realizar, não sei.
Talvez, nem pra um deus éolico isso seja possível!
Adriribeiro/@adri.poesias
Dedicatória: Ao meu amor que, sendo um homem, é meu sonho de mulher. E sabe o que eu quero dizer com isso.