O choro da Urutágua Sergipana
O choro da Urutágua
Eu rasgo palavras... Engulo os sentimentos...
Espalho o choro e me lanço ao vento... Canto!
Corro veloz no vale das lágrimas e na montanha da sorte.
No campo da morte eu passo... Em vôo livre...
Como livre é meu juízo. Sem compasso...
Por fora, sou ave-do-paraíso... Rara beleza...
Que encanta a natureza com suas penas exuberantes...
De tão negras, reluzentes, radiantes...
Mas por dentro sou Urutágua! A ave fantasma!
Mãe-da-lua... Que a morte chorando cultua
Sofrendo a ausência do seu amado...
Fecho os meus olhos mágicos pra descansar
Mas ainda o sinto... O desejo...
Sei que ele está por perto, mas não o vejo.
Então choro feito criança lamentando a falta...
Cá da minha estaca vivo gemendo em ais...
E chorando ainda mais o amor que morre...
Mas renasce intenso e dói demais.
Discriminada, ouço: Ave agourenta! Cala-te!
Ninguém aguenta tanta tristeza. Sua egoísta!
Criatura maldosa! Tenha a nobreza de ficar quieta!
E não incomode... Você não pode ser descoberta...
É mau agouro se a lua míngua...
E o seu choro, em outra língua, é puro amor, mas e daí?
Você não vê que ninguém aqui está nem aí?
O seu gemido só desperta horror. Não simpatia.
Deixa de drama! Teimosia!
Ninguém quer ler (ouvir) sobre a sua dor
Neste reduto da poesia.
Adriribeiro/@adri.poesias