Páginas de um crepúsculo
O crepúsculo, em seu desfecho, me dá páginas para folhear. Na nobreza das brisas efêmeras, entre folhagens, leio farfalhares em tantos poemas inquietos, na pele em clorofila que, depois de recitados, amarelam e caem em outonos.
Na noite escorrem lembranças e insônias, e um tanto de planos e sonhos. Entre tantos carinhos se fazem amores sem censuras, em todos os cantos do mundo. As ternuras se dão pelas inspirações e aspirações mais vívidas, de puro prazer e encantamento dos seres.
Na manhã, orvalhos reluzem esquecidos, órfãos pela boemia das alturas. Logo em seguida fenecem, mirrados sob o sol, deitados na miragem linda das pétalas que pensaram ser para sempre. Mas é que jardins e emoções também são finitos, ou pelo menos, sofrem metamorfoses, assim como gotas d água que se evaporam. A vida sorri e chora nas mesmas esquinas, porque a inconstância tem nas mãos todas as antíteses.
Os dias e noites se dão pelas pegadas do tempo em suas disparadas.
Permaneço nas margens do arrebol, folheando páginas, romanceando vida, pela beleza que a natureza esculpida e pintada por Deus empresta-me aos olhos. Ouço uma canção caindo dos poros do silêncio, e pousa-me na face, com levezas de saudades, um beijo doce.
Quando cintilam as primeiras estrelas, é mesmo o terreno dos céus louvando o brilho do sol, em réstias deixadas.
Assim é a vida angelical... Luzes de uns dias vividos.