O beijo da morte II
Prostrado num leito hospitalar, enfermo, nauseabundo, descorado, consumido por uma moléstia agressiva, de aspecto purulento e fétido, encontrava-se um ser em salsugem. Alguém que outrora rico e poderoso; soberbo e inescrupuloso; mesquinho e asqueroso... mas, como o reverso do destino é implacável, o inóspito aconteceu. As quatro fases da lua ditaram sua má sorte, hoje minguante, num leito de morte. O óbito que tardara em não vir jazia vociferando sua maledicência em agônia e caquexia. A infecção queimavam em suas veias, pulsavam em suas escaras pungentes num ar carregado de enfermidade e desprezo.
E naquele lugar isolado e restrito, onde tudo tornara impossível e incerto, a algia e a febre ditava a orquetra fúnebre que ritmavam em marcação sonora com as gotejadas dos soros e o compasso dos brancos aventais em parodóxo com véu negro da dama da noite que sorrira anciosamente a espera do seu triunfante momento.
E após intermináveis horas em convalescência, lá estava um ser humano pérfido que acreditava no poder pecaminoso da usúria e da maldade e que na materialidade da vida fora condenado na espiritualidade ínfima com o beijo da morte.