Borboletou com a Asa Dura 24
A inadequação, a falta de sentido para estar nesta vida se manteve mesmo depois de assumida a liberdade para o prazer e a libido na mulher adulta. Experimentado o corpo no sexo, usufruído do gosto de gostar do próprio corpo a dois.
Alcançou a satisfação de sentir a maciez da pele, de realizar caminhada à beira praia com o parceiro por horas, do alcance do bronzeado, voltando para casa energizada.
Mas eram circunstâncias que geravam gozo, não felicidade, logo que tudo acabava, o frenesi, a tara para a ocasião se esvaia.
O luto do aborto de um filho almejado. O diagnóstico da esterilidade, levando-a ao solo, foi um dos primeiros prenúncios do afunilamento, o sentimento de angústia, de inutilidade que imprime no ego da mulher, faz dela estopa, capacho.
Nunca deixando o figurino de pavão, a máscara da personalidade para convencer o mundo de que era feliz, realizada, levando para debaixo do tapete a insatisfação do ser, as culpas suas e dos outros por estar incompleta, incluindo o mundo.
A alma projeta expectativas, e o universo responde. A alma emite sinais, e o universo devolve com outro buscando a integração, em obediência as leis que regem o Universo para a manutenção da Totalidade.
Por mais que vivia insatisfeita com a vida, a intrepidez pela busca da verdade nunca a abandonou, chegou levar sacolas e sacolas de livros para casa, comprados em sebos, muitos, ficado sem ler quando foi para o hospital com os primeiros sintomas da doença fatídica.
Lia sobre o despertar, a iluminação, a renúncia dos grandes avatares para a vida mundana, porque acordaram, viram que a vida no ego, na personalidade, é ilusão, é fonte de sofrimento, e o propósito da vida no corpo é sair da roda do Sansara, enxergando a si como essência divina e imortal.
Mesmo assim, havia algo incompleto.
A dor da crise existencial era sofrida em silêncio, no velado do coração.