Gótico, lírico, exótico
Fascinante é o gótico, com suas imagens apunhaladas de solidão quando, das saudades, só derrama o vazio, e as cores se misturam no preto e branco das tristezas infindas. É como se o silêncio gritasse, e os ecos em medo uivassem.
Galhos carcomidos pelo tempo, suspensos na densa escuridão, representam formas nefastas, esqueléticas, sob o brilho da lua. São poemas recitados na melancolia dos olhos tingidos de escuridão. Lápides, gélidas pelas ausências sentidas, concretizam ilusões e se fazem caladas.
E as catedrais exibem dormências nas paredes de pedra, e nas estátuas de anjos sofridos. Candelabros com réstias de vela sonham a serenidade das formas, antes de serem derretidas... Parecem chorar pelas dores mundanas. E nas emoções mais penosas, a alma dilacera-se e, pela dor, escorrem noites frias e abismos.
São mágicas as cerrações nos parques, vestindo mistérios nas madrugadas. São lindas as mulheres passeando nelas, pelas caminhadas sem direções definidas. Tênues são as sombras despidas que se movem em colcheias e semicolcheias, nas linhas das partituras rasgadas em solidão.
O gótico é lírico e exótico. É canção em solos de violino, apertando corseletes na cintura, para abraços de ternuras bailarem nos braços vazios, e no batom escuro dos lábios sem ósculos.